segunda-feira, 14 de maio de 2018

Eco de Vidas

[poema alterado e publicado no bloguezin do gusta]

O declame é triste, em tom diáfano e monótono.
O orador em riste, confunde o auditório em bloco
que a tudo assiste, sem dar palpite, e sem manter o foco.

Como um fractal que se conserva mesmo quando posto em ócio,
os ouvintes se mantêm imóveis diante do equívoco exposto.
As palavras atingem, mas o público não parece se identificar nem um pouco
com o discurso do orador que é contraditório e demasiado louco.

Alguém grita em tom revolto "isso é um insulto!" e, em seguida, atira um bloco!
O orador é atingido em cheio, mas não muda a expressão do rosto:
- Com um tiro desses era pra ter desmaiado ou estar morto!

No entanto, somente sua voz parece agora prejudicada, num tom estranhamente rouco.
- Ah, eu não consigo! Não suporto! - alguém incomodado corre ao púlpito,
e ao encarar o nosso orador oco e súbito,
descobre que não há nada de humano naquele ser robótico.

E surpreende ao revelar o absurdo ao povo súdito:
- A única coisa humana, demasiada humana, nesse ser diabólico
é o tom de seu discurso, que apesar de caótico
reproduz, tão somente, a opinião do íntimo das vidas aqui presentes

nesse ambiente insólito.

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